Quando a idade pesa
Este fim-de-semana fui à terra.
Aproveitámos e fomos visitar a minha tia-avó (?) é irmã da minha avó e para mim foi e será sempre a tia Lurdes. Teve um AVC e não conseguiu recuperar totalmente e neste momento teve de deixar a sua casa e mudar-se para a unidade de cuidados continuados.
Isto para uma pessoa que era completamente independente, que ia tratar todos os dias das galinhas e das cabras, ia tratar da horta, mantinha a casa em ordem, acartava com fardos e palha, andava para cima e para baixo naquelas ruas inclinadas de pedra gasta.... Passar para uma cadeira de rodas, amarrada para não cair, a babar-se, de fralda... foi um murro no estômago para mim por isso nem consigo imaginar para ela.
Ela não reconhece a maioria das pessoas, vê-la a olhar para mim a tentar perceber quem eu era... doeu-me. Controlei-me com uma força sobrenatural para não chorar ali. Ela já está mal o suficiente não precisa de mim ali a chorar.
Isto de viver muitos anos é muito bonito mas a que custo? Será que não estamos a abdicar de qualidade de vida?
Não estou a dizer que ela devia morrer mas será que ela queria viver assim? Passar de 80 para 8? Vê-la assim foi horrível para mim. É daquelas coisas que sabemos que existe mas só percebemos a gravidade quando nos calha a nós.
A minha prima, filha dela, chorava, e dizia que preferia que a mãe voltasse a encher a mesa de sacos a vê-la naquele estado. Que preferia estar o resto da vida calada dos sacos em cima da mesa... sacos. A porra de sacos.
E é assim, de um dia para o outro a vida dá uma volta de 180º e não nos permite dar os restantes 180ª para voltarmos ao que tínhamos como garantido.
Espero nunca, mas nunca na vida ter de ver mais algum familiar naquele estado. A única coisas que me acalentou foi saber que ela tem visitas todos os dias, temos uma prima que trabalha lá, é um centro novo e com óptimas condições e cheio de malta nova animada e disposta a passar essa energia para eles. Lá é conhecida pela Dona Ludinhas.